Um dos aspectos de grande importância na qualidade do transporte público é integração modal. A integração permite a continuidade, alimentação e a maior diversidade de destinos dos sistemas de transporte tronco-alimentadores. Neste post venho abordar a questão específica da
Transcarioca com a Transbrasil (eixos de BRTs propostos pela Prefeitura do Rio de Janeiro) e fazer uma crítica a qualidade das soluções de integração no transporte coletivo. Porém, antes desta abordagem especifica, irei compartilhar algumas experiências que tive com integração modal pelo Brasil.
Terminal Rodoviário do Tiete.
Quando eu e minha esposa Luciana decidimos visitar São Paulo, fizemos um planejamento de nossa estadia. Escolhemos ir de ônibus, descer no Terminal Tiete, pegar o metrô na integração e descer na estação Consolação, próxima ao hotel Formula 1. Não conhecíamos a cidade e mesmo com o planejamento sentíamos algum receio de problemas ao longo do trajeto. Chegando ao terminal procuramos a estação de metrô e sabíamos, através das fotos que vimos no Google Maps, que a mesma possuía boa integração. Chegando ao Saguão principal da estação era possível ver a plataforma de metrô em nível, sem escadas, passarelas ou elevadores, a experiência superou as expectativas.
Terminal Novo Rio
Próximo das Avenidas Brasil, Francisco Bicalho e Rodrigues Alves o terminal Novo Rio é equipamento que não dialoga com os modais de transporte de alta capacidade como o Metrô Rio e os Trens da Supervia. Existe até a integração do Metrô-Ônibus, mas este não possui a frequência adequada para garantir um bom serviço. As outras opções para chegar ou sair da rodoviária são a diversidade de ônibus que circulam no trafego geral e o serviço de táxi disponível na rodoviária. Se você não conhece direito a cidade, fica refém dos preços praticados pelas empresas de táxi que disputam espaço no terminal.
O projeto do VLT, proposto pela prefeitura, prevê uma estação que trará a integração da rodoviária com a área portuária e o centro da cidade. No entanto, não há informações mais detalhadas sobre como será esta integração. Os documentos disponíveis sobre o projeto podem ser encontrados nos seguintes links:
http://portomaravilha.com.br/conteudo/vlt/estudo_tecnico_preliminar_vlt_ccr.pdf
http://portomaravilha.com.br/conteudo/projesp/VLT/apresentacao_vlt.pdf
O "X" da questão
O Rio de Janeiro, cidade sede dos jogos olímpicos de 2016, vem sofrendo uma série de intervenções que visam ampliar a capacidade e a qualidade da mobilidade urbana. O principal projeto em andamento é o BRT que possui diversos eixos denominados como:
- Transcarioca (Barra da Tijuca - Galeão)
- Transolimpica (Barra da Tijuca - Deodoro)
- Transoeste (Barra da Tijuca - Campo Grande)
- Transbrasil (Deodoro - Centro)
O eixo da Transcarioca em especial é uma intervenção que corta a cidade no sentido transversal permitindo diversos pontos de integração com os eixos existentes dos Trens da Supervia e Metrô, e previsto da Transbrasil. O escopo original do eixo da Transcarioca pontuou os seguintes locais de integração:
- Terminal Alvorada (Integração com a Transoeste)
- Estação de Madureira (Integração com os Trens da Supervia)
- Estação Vicente de Carvalho (Integração com o Metrô)
- Estação Olaria (Integração com os Trens da Supervia)
- Estação Avenida Brasil (Integração com o BRT Transbrasil)
- Estação de Integração da Ilha do Governador (Integração com ônibus alimentadores do BRT)
- Estação Galeão (Integração com o Aeroporto)
O questionamento foco deste texto é a exclusão da integração da Transcarioca com a Transbrasil. Prevista no
Relatório de Impacto Ambiental Simplificado (o link foi retirado do ar - segue
back up ) , a integração seria localizada sobre viaduto da Transcarioca no cruzamento com a Avenida Brasil.
Quando questionada com relação a exclusão da integração o canal institucional da prefeitura respondeu da seguinte maneira:
"Mauro, sempre que é feita uma obra que altera a infraestrutura ou uma via na cidade, ela é planejada para causar o menor impacto durante a execução. Sendo assim, durante o processo, algumas obras são atualizadas, considerando novas demandas e necessidades e se adaptando melhor às necessidades da cidade.
Uma estação na Avenida Brasil poderia se tornar um risco para pedestres e motoristas, por isso é mais interessante implantar linhas alimentadoras para o fundão e a Ilha do Governador."
Não é novidade que a execução de importantes intervenções trazem impactos na implementação e a prefeitura deve mitigar os conflitos que por ventura venham acontecer. A alegação de que uma estação na Avenida Brasil poderia se tornar um risco me parece pouco justificável pois foi desenvolvido um relatório de impacto ambiental (desenvolvido pela prefeitura) que não indica esse risco, bem como propõe a estação neste local. Em virtude da Transbrasil, serão executadas outas estações na Av. Brasil, todas podem oferecer risco em sua implantação, que deverão ser mitigados com as indicações do relatório de impacto ambiental.
A necessidade de atualização de um projeto devido a dificuldades que venham a ocorrer na implantação do mesmo é uma coisa natural, mas o que está sendo modificado não é o projeto da estação, mas sim o escopo do sistema do BRT. Não há problema em criar um terminal alimentador no Fundão para o sistema, mas deixar de promover esta ligação direta e rápida para o usuário é um equivoco que trará uma lacuna irreparável para a integração do sistema.
Outro problema avaliado é que não existem informações técnicas suficientes sobre os projetos de mobilidade que a prefeitura vem desenvolvendo. A constatação da alteração deste projeto só foi possível pela divulgação do
vídeo que apresenta a execução do viaduto que abrigaria a integração. Exemplos como o do
projeto do metrô curitibano, que em 2012 já tinha disponibilizado em sua página uma série de projetos que permitem fazer uma avaliação da proposta, e do site da Metrominas, que possui hoje disponibilizado
projetos de novos terminais que farão a integração metropolitana com a Linha 1, são referências para promover a devida transparência dos projetos públicos. Além do "X" da questão, existem outros pontos que merecem avaliação mas não há disponibilidade pública de informação adequada para análise. Retomando a integração do VLT, poderíamos fazer os seguintes questionamentos:
- A estação do VLT estará integrada ao Terminal Novo Rio assim como o Metrô no Terminal Tietê? Ou os usuários do terminal terão que caminhar com malas e bagagens por alguns quarteirões até a estação?
- O entorno da estação terá tratamento que prioriza a circulação de pedestes (alargamento de passeios, travessias de pedestres em nível, atendimento a NBR 9050/04, ampla arborização e iluminação pública)?
A crítica aqui exposta foi encaminhada para diversos canais de imprensa, o executivo e legislativo municipais, o Instituto dos Arquitetos, ONGs e o Movimento do Passe Livre RJ. Entendo que é vital ampliar a discussão sobre a modificação deste projeto e das demais integrações existentes e previstas.
Observando os exemplos dos terminais do Rio e São Paulo, volto a defender que a realização de uma boa integração modal é um dos preceitos para a melhoria do transporte público. Apesar de haver resistência ao transbordo realizados nestas estruturas, entendo que pior que a transposição entre modais é a falta de pontos de integração entre os eixos de transporte coletivo na região metropolitana do Rio de Janeiro. Oportunidades de conexão que são perdidas.
Aquele abraço...